Dois conselhos para sempre.

Preocupado, ocupado por devaneios, seguia o Tolo ainda perdendo-se nos desvios, mesmo na floresta agora toda aberta, aturdido de anseios. A sua volta estava tudo limpo, não haviam mais os cipós, as onças, o limo. O pior ficara para trás. À sua frente dava pra ver o horizonte até, o fim da mata, estaria livre, muito em breve, os maiores perigos não corria mais: Perder-se a ponto de não se achar, tomar picadas de cobras, aranhas, fungada na bunda de Tamanduá. Era seu maior medo. Ficar pra sempre ali sozinho no meio daquela floresta, correndo riscos de escorregar, e bater de cabeça numa pedra, e bater as botas sem ninguém nem ver...

_ Não vai acontecer.

Não ia, logo depois do fim da mata estava o vilarejo, e o Tolo sabia.

_ Eu sei, mas continuo preocupado...não sei com o que.
_ Quer um conselho?
_ Pode dar dois?
_ Deixe de encontrar problema onde não há, é a primeira coisa que deves fazer. Ali está o horizonte, logo estará o vilarejo, você chegou, cara, encontrou a saída! Não existe mais problema, não há! Pare de se preocupar.

Notando-o ainda perturbado, parou de falar. E o Tolo prosseguiu:

_ Aí é que está...não há mais problema?
_ Não.
_ E como vai ser agora?
_ Chegarás ao vilarejo, estarás sob o cuidado dos outros.
_ E senão?
_ Se voltar pra trás? Enfrentarás a solidão.
_ De novo?... Ah, não.
_ Então vá, siga. O vilarejo está há menos de dois quilômetros daqui. Vá agora. Em menos de duas horas estarás lá.

Em menos de duas horas tudo iria mudar. E isso preocupou o Tolo mais ainda.

_ Menos de duas horas?...é jajá...
_ É! Vá! E leve isto, tome, é um bilhete. Leia-o, mas só quando chegar.

O Tolo pegou o bilhete, guardou-o e se despediu, timidamente.

_ ... valeu por tudo aí ...
_ Que nada. Agora vá. Siga!
_ ... tá ...

E assim ele foi. Nem tão confiante, nem sem frio na barriga, mas foi. Seguiu o Tolo em adiante, rumo à saída.

Obs: O que estava escrito no bilhete. (Dá uma lida)